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Revolução para a Amazônia, Bertha Becker - Parte 3

Para explorar a biodiversidade, é necessário um controle sobre o seu acesso. Como está hoje a questão da biopirataria na região e o que poderia ser feito para evitar esse problema? A biopirataria existe, mas não é o maior problema. Uma das grandes questões na Amazônia é a ausência do Estado e das instituições responsáveis por fazer cumprir a lei. Uma ação positiva seria superar as ações setoriais isoladas, promovendo sua articulação em arranjos institucionais coletivos. Foi o que tentou o grupo interministerial de trabalho ao buscar asfaltar a rodovia Cuiabá-Santarém. A ação seria muito mais eficaz, contudo, se ela fosse feita diretamente no território. Outra forma seria envolver as populações locais na vigilância. Há que se pensar mais, certamente, para passar de discursos a ações concretas.

Em relação a projetos de preservação ambiental com capital estrangeiro, a senhora alerta para o risco de privatização e internacionalização da Amazônia pela compra e o controle de grandes áreas de terra. O que poderia ser feito para evitar isso? Idealmente, deveríamos ter um desenvolvimento autóctone, isto é, implementado por brasileiros e visando a benefícios para a população regional e nacional. Parece que, face à globalização, o país tem que mudar as estratégias, inserindo-se no mundo para não ser excluído, como ocorreu com a África, mas assegurando a autonomia das decisões quanto ao modo de realizar essa inserção.

Em 2004, a senhora realizou um estudo para a gestão integrada dos projetos para a Amazônia da Seped/MCT, visando subsidiar as políticas de ciência e tecnologia para a região. Quais propostas poderia destacar? Foram duas as propostas centrais. A primeira referiu-se à gestão do conhecimento; no caso, os projetos científicos implementados na Amazônia pela Seped – LBA [Experimento em Larga Escala da Biosfera e Atmosfera na Amazônia], Geoma [Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia] e PPBio [Programa de Pesquisa em Biodiversidade] – visando alcançar complementaridade e eliminar redundâncias. A segunda foi uma proposta de ação: implementar cadeias tecnoprodutivas para uso da biodiversidade desde o âmago da floresta às indústrias, como importante forma de gerar trabalho e riqueza sem destruir as florestas. Um exemplo que me parece viável é a construção dessa cadeia a partir da Floresta Nacional do Tapajós [Pará], onde um significativo número de pequenos produtores extrai óleo de andiroba e de outras árvores e vende o produto em pequenos vidros. Um centro de pesquisa localizado em Santarém ou Itaituba, voltado para a formação dessa cadeia, poderia ser um grande estímulo inicial para a área, que vai contar com a rodovia Cuiabá-Santarém asfaltada.

Andréa Gouthier Especial para Ciência Hoje/DF

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Para explorar a biodiversidade, é necessário um controle sobre o seu acesso. Como está hoje a questão da biopirataria na região e o que poderia ser feito para evitar esse problema?
A biopirataria existe, mas não é o maior problema. Uma das grandes questões na Amazônia é a ausência do Estado e das instituições responsáveis por fazer cumprir a lei. Uma ação positiva seria superar as ações setoriais isoladas, promovendo sua articulação em arranjos institucionais coletivos. Foi o que tentou o grupo interministerial de trabalho ao buscar asfaltar a rodovia Cuiabá-Santarém. A ação seria muito mais eficaz, contudo, se ela fosse feita diretamente no território. Outra forma seria envolver as populações locais na vigilância. Há que se pensar mais, certamente, para passar de discursos a ações concretas.

Em relação a projetos de preservação ambiental com capital estrangeiro, a senhora alerta para o risco de privatização e internacionalização da Amazônia pela compra e o controle de grandes áreas de terra. O que poderia ser feito para evitar isso?
Idealmente, deveríamos ter um desenvolvimento autóctone, isto é, implementado por brasileiros e visando a benefícios para a população regional e nacional. Parece que, face à globalização, o país tem que mudar as estratégias, inserindo-se no mundo para não ser excluído, como ocorreu com a África, mas assegurando a autonomia das decisões quanto ao modo de realizar essa inserção.

Em 2004, a senhora realizou um estudo para a gestão integrada dos projetos para a Amazônia da Seped/MCT, visando subsidiar as políticas de ciência e tecnologia para a região. Quais propostas poderia destacar?
Foram duas as propostas centrais. A primeira referiu-se à gestão do conhecimento; no caso, os projetos científicos implementados na Amazônia pela Seped – LBA [Experimento em Larga Escala da Biosfera e Atmosfera na Amazônia], Geoma [Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia] e PPBio [Programa de Pesquisa em Biodiversidade] – visando alcançar complementaridade e eliminar redundâncias. A segunda foi uma proposta de ação: implementar cadeias tecnoprodutivas para uso da biodiversidade desde o âmago da floresta às indústrias, como importante forma de gerar trabalho e riqueza sem destruir as florestas. Um exemplo que me parece viável é a construção dessa cadeia a partir da Floresta Nacional do Tapajós [Pará], onde um significativo número de pequenos produtores extrai óleo de andiroba e de outras árvores e vende o produto em pequenos vidros. Um centro de pesquisa localizado em Santarém ou Itaituba, voltado para a formação dessa cadeia, poderia ser um grande estímulo inicial para a área, que vai contar com a rodovia Cuiabá-Santarém asfaltada.


Andréa Gouthier
Especial para Ciência Hoje/DF