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Comunicação Social, Os meios de comunicação e as novas tecnologias

A internet e a digitalização das mídias mudaram o panorama mundial das comunicações de massa. Por meio do computador, o cidadão brasileiro pode ver TV, ouvir rádio, ler jornais e sites de notícia não só do Brasil, mas de qualquer país do mundo, em qualquer língua. Por exemplo, no site Youtube o usuário encontra os vídeos feitos por milhões de internautas de qualquer país.

Por esse motivo, muitos especialistas afirmam que as cotas de programação não têm mais efeito para a proteção da cultura das diferentes regiões. Como o acesso é ilimitado, os usuários podem ignorar as restrições na mídia convencional e baixar programas de televisão ou rádio feitos em qualquer lugar do mundo.

Mas a digitalização da mídia não tem efeitos apenas sobre o controle governamental dos conteúdos. No Brasil, cresce o investimento de grupos estrangeiros na comunicação, principalmente na TV por assinatura, que não tem as mesmas restrições legais do rádio e da TV aberta. Surge também uma competição entre os setores da radiodifusão e das telecomunicações, porque o avanço da tecnologia permite a convergência entre os serviços. Atualmente, a mesma operadora que oferece o serviço de telefonia, também oferece internet em alta velocidade e televisão por assinatura.

No cenário concentrado das comunicações brasileiras, surge a possibilidade de democratização das mídias e abertura do mercado a novos atores. Mas o processo também depende da regulação do setor.

O professor da Unisinos, Valério Cruz Brittos, destaca que será fundamental garantir que a digitalização sirva para desconcentrar as mídias no Brasil. Valério Cruz defende a descentralização da produção, para que pequenas comunidades, grupos independentes e associações da sociedade civil também possam produzir vídeos e expressar suas visões de mundo nas mídias.

"A gente tem um novo patamar, digamos assim, o patamar digital, onde se tem a entrada de outros atores. No processo de convergência, praticamente todos os setores econômicos perdem as suas barreiras tradicionais e passam a entrar nos setores que já eram tradicionalmente ocupados por outros players. Isso representa, em primeiro lugar, oportunidade de negócios para essas empresas. Mas até aí, isso não traz um grande diferencial para a sociedade. Me parece que, mais importante do que isso, é que a gente pense num marco regulatório sério, importante, inclusivo, onde se preveja a necessidade de que parte desse processo seja descentralizado" Para o professor César Bolaño, da Universidade Federal de Sergipe, a tecnologia não vai solucionar a concentração das mídias no Brasil. César Bolaño lembra que apenas nove famílias são donas da maioria das tevês, rádios e jornais no País.

"E isso não vai ser resolver com a nova tecnologia, porque isso não é um problema tecnológico, mas é um problema de regulação. E o problema da regulação está relacionado com a capacidade de pressão que os grupos hegemônicos têm de fazer com que a regulação sempre seja a seu favor. Agora, existe um elemento de mudança, de qualquer maneira, pelo lado da tecnologia, e isso é normal na introdução de qualquer tecnologia, que é o fato de que as posições de poder se desestabilizam em função das possibilidades de entrada" Para outros pesquisadores, entretanto, a introdução da TV digital representa, no Brasil, uma revolução, pois permitirá a interatividade e a comunicação direta com o público. Isso porque a TV vai ficar cada vez mais parecida com um computador. Ao ver uma novela, por exemplo, o telespectador que gostar da roupa usada pela atriz, poderá comprá-la usando a internet acoplada ao televisor, sem sair de casa. Ou poderá usar a televisão para mandar recados para os deputados do seu Estado, pedir a reprise de um programa, ou conseguir mais informações sobre uma cidade visitada por um repórter.

Cosette Castro, pesquisadora da Umesp, destaca que 95% da população já tem aparelhos de televisão, que poderão ser adaptados para o sinal digital e incluir as pessoas que ainda não acessam computadores. Mas é preciso preparar os produtores dessas mídias digitais, lembra Cosette.

"Quando eu falo em mídias digitais não significa excluir as demais mídias, ao contrário, acrescentar novas mídias. Temos um canal que é muito importante, a internet nos ajuda em diferentes plataformas tecnológicas. Nós não temos ainda uma cultura digital, então há um problema seríssimo, que é normal, porque essas tecnologias estão surgindo. Nós temos que nos apropriarmos delas, sermos alfabetizados digitalmente, para depois podermos conversar com o público" As possibilidades de interação com público já estão modificando as relações entre ouvintes e radialistas, por exemplo. Se antes o espectador só podia participar da programação por meio do telefone, agora ele pode enviar comentários e sugestões por e-mail, ou torpedos diretamente para o celular do apresentador. A ampliação da interatividade é o que mostra a pesquisa da professora da PUC do Rio Grande do Sul, Dóris Fagundes Haussen.

"Interatividade no sentido de que é uma manifestação possível do público, porque há uma tecnologia que permite isso. Isso está fazendo com que os apresentadores de programa, os radialistas tenham que estar se pautando também por aquela presença do ouvinte. Sinceramente, acho que não há porque considerar o ouvinte um incapaz. Ele está recebendo mensagens e está reagindo. Essa reação se expressa por essa vontade de ser ouvido. Agora, como o jornalista ou o radialista vai responder e vai ter condições para tornar aquele momento importante para o seu programa e sua emissora, bom, aí é outra questão" A ampliação do contato entre comunicadores e público é uma das grandes promessas da tecnologia digital. Para o professor de radiojornalismo da UnB Carlos Eduardo Esch a grande questão sobre a digitalização é a manutenção dos vínculos entre audiência e radialista. Carlos Eduardo Esch aponta a segmentação como uma das possibilidades para a mídia.

"A gente faz suposições do que pode acontecer, a gente imagina. Eu posso aumentar o número de canais, eu posso criar uma série de recursos tecnológicos pro rádio, seja na melhoria de transmissão ou no grau de oferta dos conteúdos radiofônicos. Mas a grande questão que se pergunta é: como é que ele vai manter esse vínculo com a audiência, que é o que faz o veículo existir ou que faz o veículo ter sentido social. A gente sabe que vai aumentar muito a possibilidade de oferta de conteúdo e que essa possibilidade de aumento vai exigir uma preparação cada vez mais específica. E a pergunta é: a gente vai ter um rádio que simplesmente será um canal de tocar música ou a gente vai ter um rádio que vai se abrir a outras possibilidade de conhecimento, de entretenimento, de informação?" Para muitos especialistas, a ampliação dos canais de contato com o público poderá tornar as mídias digitais mais democráticas e mais abertas à pluralidade de idéias e opiniões. A atuação dos comunicadores e o desenvolvimento de novos produtos pode, inclusive, melhorar a comunicação da sociedade com o governo e democratizar as relações entre a política e a mídia no país.

De Brasília, Cristiane Bernardes

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A internet e a digitalização das mídias mudaram o panorama mundial das comunicações de massa. Por meio do computador, o cidadão brasileiro pode ver TV, ouvir rádio, ler jornais e sites de notícia não só do Brasil, mas de qualquer país do mundo, em qualquer língua. Por exemplo, no site Youtube o usuário encontra os vídeos feitos por milhões de internautas de qualquer país.

Por esse motivo, muitos especialistas afirmam que as cotas de programação não têm mais efeito para a proteção da cultura das diferentes regiões. Como o acesso é ilimitado, os usuários podem ignorar as restrições na mídia convencional e baixar programas de televisão ou rádio feitos em qualquer lugar do mundo.

Mas a digitalização da mídia não tem efeitos apenas sobre o controle governamental dos conteúdos. No Brasil, cresce o investimento de grupos estrangeiros na comunicação, principalmente na TV por assinatura, que não tem as mesmas restrições legais do rádio e da TV aberta. Surge também uma competição entre os setores da radiodifusão e das telecomunicações, porque o avanço da tecnologia permite a convergência entre os serviços. Atualmente, a mesma operadora que oferece o serviço de telefonia, também oferece internet em alta velocidade e televisão por assinatura.

No cenário concentrado das comunicações brasileiras, surge a possibilidade de democratização das mídias e abertura do mercado a novos atores. Mas o processo também depende da regulação do setor.

O professor da Unisinos, Valério Cruz Brittos, destaca que será fundamental garantir que a digitalização sirva para desconcentrar as mídias no Brasil. Valério Cruz defende a descentralização da produção, para que pequenas comunidades, grupos independentes e associações da sociedade civil também possam produzir vídeos e expressar suas visões de mundo nas mídias.

"A gente tem um novo patamar, digamos assim, o patamar digital, onde se tem a entrada de outros atores. No processo de convergência, praticamente todos os setores econômicos perdem as suas barreiras tradicionais e passam a entrar nos setores que já eram tradicionalmente ocupados por outros players. Isso representa, em primeiro lugar, oportunidade de negócios para essas empresas. Mas até aí, isso não traz um grande diferencial para a sociedade. Me parece que, mais importante do que isso, é que a gente pense num marco regulatório sério, importante, inclusivo, onde se preveja a necessidade de que parte desse processo seja descentralizado"

Para o professor César Bolaño, da Universidade Federal de Sergipe, a tecnologia não vai solucionar a concentração das mídias no Brasil. César Bolaño lembra que apenas nove famílias são donas da maioria das tevês, rádios e jornais no País.

"E isso não vai ser resolver com a nova tecnologia, porque isso não é um problema tecnológico, mas é um problema de regulação. E o problema da regulação está relacionado com a capacidade de pressão que os grupos hegemônicos têm de fazer com que a regulação sempre seja a seu favor. Agora, existe um elemento de mudança, de qualquer maneira, pelo lado da tecnologia, e isso é normal na introdução de qualquer tecnologia, que é o fato de que as posições de poder se desestabilizam em função das possibilidades de entrada"

Para outros pesquisadores, entretanto, a introdução da TV digital representa, no Brasil, uma revolução, pois permitirá a interatividade e a comunicação direta com o público. Isso porque a TV vai ficar cada vez mais parecida com um computador. Ao ver uma novela, por exemplo, o telespectador que gostar da roupa usada pela atriz, poderá comprá-la usando a internet acoplada ao televisor, sem sair de casa. Ou poderá usar a televisão para mandar recados para os deputados do seu Estado, pedir a reprise de um programa, ou conseguir mais informações sobre uma cidade visitada por um repórter.

Cosette Castro, pesquisadora da Umesp, destaca que 95% da população já tem aparelhos de televisão, que poderão ser adaptados para o sinal digital e incluir as pessoas que ainda não acessam computadores. Mas é preciso preparar os produtores dessas mídias digitais, lembra Cosette.

"Quando eu falo em mídias digitais não significa excluir as demais mídias, ao contrário, acrescentar novas mídias. Temos um canal que é muito importante, a internet nos ajuda em diferentes plataformas tecnológicas. Nós não temos ainda uma cultura digital, então há um problema seríssimo, que é normal, porque essas tecnologias estão surgindo. Nós temos que nos apropriarmos delas, sermos alfabetizados digitalmente, para depois podermos conversar com o público"

As possibilidades de interação com público já estão modificando as relações entre ouvintes e radialistas, por exemplo. Se antes o espectador só podia participar da programação por meio do telefone, agora ele pode enviar comentários e sugestões por e-mail, ou torpedos diretamente para o celular do apresentador. A ampliação da interatividade é o que mostra a pesquisa da professora da PUC do Rio Grande do Sul, Dóris Fagundes Haussen.

"Interatividade no sentido de que é uma manifestação possível do público, porque há uma tecnologia que permite isso. Isso está fazendo com que os apresentadores de programa, os radialistas tenham que estar se pautando também por aquela presença do ouvinte. Sinceramente, acho que não há porque considerar o ouvinte um incapaz. Ele está recebendo mensagens e está reagindo. Essa reação se expressa por essa vontade de ser ouvido. Agora, como o jornalista ou o radialista vai responder e vai ter condições para tornar aquele momento importante para o seu programa e sua emissora, bom, aí é outra questão"

A ampliação do contato entre comunicadores e público é uma das grandes promessas da tecnologia digital. Para o professor de radiojornalismo da UnB Carlos Eduardo Esch a grande questão sobre a digitalização é a manutenção dos vínculos entre audiência e radialista. Carlos Eduardo Esch aponta a segmentação como uma das possibilidades para a mídia.

"A gente faz suposições do que pode acontecer, a gente imagina. Eu posso aumentar o número de canais, eu posso criar uma série de recursos tecnológicos pro rádio, seja na melhoria de transmissão ou no grau de oferta dos conteúdos radiofônicos. Mas a grande questão que se pergunta é: como é que ele vai manter esse vínculo com a audiência, que é o que faz o veículo existir ou que faz o veículo ter sentido social. A gente sabe que vai aumentar muito a possibilidade de oferta de conteúdo e que essa possibilidade de aumento vai exigir uma preparação cada vez mais específica. E a pergunta é: a gente vai ter um rádio que simplesmente será um canal de tocar música ou a gente vai ter um rádio que vai se abrir a outras possibilidade de conhecimento, de entretenimento, de informação?"

Para muitos especialistas, a ampliação dos canais de contato com o público poderá tornar as mídias digitais mais democráticas e mais abertas à pluralidade de idéias e opiniões. A atuação dos comunicadores e o desenvolvimento de novos produtos pode, inclusive, melhorar a comunicação da sociedade com o governo e democratizar as relações entre a política e a mídia no país.

De Brasília, Cristiane Bernardes