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Reportagem Especial - A crise, O que é a crise?

Ela está lá, basta ligar a TV, o rádio, ler um jornal: todos os noticiários falam diariamente da crise financeira que afeta o mundo. Falam sobre a bolha que estourou. Mas você sabe exatamente de onde surgiu essa crise?

O professor de economia da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzo, explica que a crise financeira que estourou no ano passado nos Estados Unidos e rapidamente atingiu o resto do planeta tem uma trajetória longa. Belluzzo diz que as raízes da crise estão 30, 40 anos atrás, nos processos de desregulamentação de um sistema financeiro, que é inclinado à criatividade. As instituições financeiras americanas, querendo tirar o melhor proveito da livre concorrência, acabaram por fazer uma avaliação irresponsável dos riscos. Novas formas de negociação de ativos e dívidas foram criadas, o que acarretou em situações insustentáveis. Os bancos passaram a dar crédito para clientes que não tinham a menor condição de recebê-los, com renda baixa e sem garantias. Esse é o chamado subprime. E veio o período de farra. Os gestores de fundos e bancos passaram a comprar esses títulos "subprime" das instituições que fizeram o primeiro empréstimo. Dessa forma, uma nova quantia em dinheiro era emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. O professor Luiz Gonzaga Belluzo explica o que aconteceu depois da farra dos subprime.

"O subprime é apenas um dos aspectos da crise, mas ela é muito mais ampla, porque ela atinge vários instrumentos e instituições, todos eles comprometidos com situações e posições muito arriscadas, e que dependem muito de elos muito fracos do sistema, como por exemplo, a manutenção da liquidez no mercado imobiliário. Quando essa liquidez desapareceu, os ativos que apresentaram nas operações começaram a ficar sem possibilidade de serem negociados, vendidos." Isso assustou os aplicadores, o que resultou numa diminuição de crédito. Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis norte-americanos começaram a cair. Com isso, a oferta passou a superar a demanda. As pessoas começaram a deixar de pagar seus financiamentos, e o medo de mais calotes fez o crédito cair. Estavam montados todos os ingredientes para a crise que estourou no segundo semestre de 2008.

Em 1929, os Estados Unidos já haviam experimentado outra grande crise, a chamada Grande Depressão. Este período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego e queda do Produto Interno Bruto de diversos países. A produção industrial e o preço das ações também despencaram. O professor Belluzzo diz que a crise atual tem algumas semelhanças com a quebra da bolsa de 1929.

"As semelhanças estão justamente nesse ciclo movido a crédito, a descuidos com o risco envolvido nas operações, ao desejo de você acumular cada vez mais depressa riqueza monetária a partir dessas inovações, os incentivos aos operadores, aos executivos que vinham, de quanto maior a quantidade de operações realizadas, melhor era, eles recebiam um bônus em função disso. Mas por outro lado, essa crise é muito mais abrangente, porque os mercados financeiros hoje são muito mais integrados do que eram em 29. Hoje em dia, as relações por exemplo, entre a bolsa, o Dow Jones, e a bolsa brasileira ou a bolsa de Xangai, são muito mais próximas, a integração desses mercados é muito maior." Com essa integração planetária de mercados, a possibilidade de trauma se estende a todos os países, sem distinção, explica o professor Belluzzo. A crise simplesmente arrasou alguns países como a Islândia, que amargou uma queda de 91,4% dos papéis de suas empresas na bolsa de valores no período de de setembro de 2008 a março de 2009 . Os Estados Unidos apresentam níveis de desemprego nunca vistos. Bancos tradicionais quebram na Inglaterra. De acordo com o professor Belluzzo, o Brasil sofreu um choque por contágios e expectativas negativas, o que afetou o crédito, e a capacidade de obtenção de fundos por parte dos bancos. Mas ele acredita que as instituições financeiras brasileiras não entraram no que ele chama de onda de peraltices que ocorreram em boa parte do mundo, o que deixa nosso país mais preservado.

DE Brasília, Adriana Magalhães.

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Ela está lá, basta ligar a TV, o rádio, ler um jornal: todos os noticiários falam diariamente da crise financeira que afeta o mundo. Falam sobre a bolha que estourou. Mas você sabe exatamente de onde surgiu essa crise?


O professor de economia da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzo, explica que a crise financeira que estourou no ano passado nos Estados Unidos e rapidamente atingiu o resto do planeta tem uma trajetória longa. Belluzzo diz que as raízes da crise estão 30, 40 anos atrás, nos processos de desregulamentação de um sistema financeiro, que é inclinado à criatividade. As instituições financeiras americanas, querendo tirar o melhor proveito da livre concorrência, acabaram por fazer uma avaliação irresponsável dos riscos. Novas formas de negociação de ativos e dívidas foram criadas, o que acarretou em situações insustentáveis. Os bancos passaram a dar crédito para clientes que não tinham a menor condição de recebê-los, com renda baixa e sem garantias. Esse é o chamado subprime. E veio o período de farra. Os gestores de fundos e bancos passaram a comprar esses títulos "subprime" das instituições que fizeram o primeiro empréstimo. Dessa forma, uma nova quantia em dinheiro era emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. O professor Luiz Gonzaga Belluzo explica o que aconteceu depois da farra dos subprime.

"O subprime é apenas um dos aspectos da crise, mas ela é muito mais ampla, porque ela atinge vários instrumentos e instituições, todos eles comprometidos com situações e posições muito arriscadas, e que dependem muito de elos muito fracos do sistema, como por exemplo, a manutenção da liquidez no mercado imobiliário. Quando essa liquidez desapareceu, os ativos que apresentaram nas operações começaram a ficar sem possibilidade de serem negociados, vendidos."

Isso assustou os aplicadores, o que resultou numa diminuição de crédito. Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis norte-americanos começaram a cair. Com isso, a oferta passou a superar a demanda. As pessoas começaram a deixar de pagar seus financiamentos, e o medo de mais calotes fez o crédito cair. Estavam montados todos os ingredientes para a crise que estourou no segundo semestre de 2008.


Em 1929, os Estados Unidos já haviam experimentado outra grande crise, a chamada Grande Depressão. Este período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego e queda do Produto Interno Bruto de diversos países. A produção industrial e o preço das ações também despencaram. O professor Belluzzo diz que a crise atual tem algumas semelhanças com a quebra da bolsa de 1929.

"As semelhanças estão justamente nesse ciclo movido a crédito, a descuidos com o risco envolvido nas operações, ao desejo de você acumular cada vez mais depressa riqueza monetária a partir dessas inovações, os incentivos aos operadores, aos executivos que vinham, de quanto maior a quantidade de operações realizadas, melhor era, eles recebiam um bônus em função disso. Mas por outro lado, essa crise é muito mais abrangente, porque os mercados financeiros hoje são muito mais integrados do que eram em 29. Hoje em dia, as relações por exemplo, entre a bolsa, o Dow Jones, e a bolsa brasileira ou a bolsa de Xangai, são muito mais próximas, a integração desses mercados é muito maior."

Com essa integração planetária de mercados, a possibilidade de trauma se estende a todos os países, sem distinção, explica o professor Belluzzo. A crise simplesmente arrasou alguns países como a Islândia, que amargou uma queda de 91,4% dos papéis de suas empresas na bolsa de valores no período de de setembro de 2008 a março de 2009 . Os Estados Unidos apresentam níveis de desemprego nunca vistos. Bancos tradicionais quebram na Inglaterra. De acordo com o professor Belluzzo, o Brasil sofreu um choque por contágios e expectativas negativas, o que afetou o crédito, e a capacidade de obtenção de fundos por parte dos bancos. Mas ele acredita que as instituições financeiras brasileiras não entraram no que ele chama de onda de peraltices que ocorreram em boa parte do mundo, o que deixa nosso país mais preservado.

DE Brasília, Adriana Magalhães.