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PortugueseLingQ, #14 Setúbal

Susana: Olá bem vindos a mais um podcast do LingQ. Eu, há alguns dias, estive a falar com uma colega minha chamada Andreia acerca da sua cidade, acerca de Setúbal. E nós estivemos a conversar, mas como só tínhamos um microfone e ela é que o tinha, a minha voz ficou-se a ouvir mesmo muito ao fundo, e era mesmo difícil compreender aquilo que eu dizia, por isso…. E eu só reparei, acabei por só reparar nisso quando cheguei a casa e depois tive a ouvir aquilo que tínhamos gravado.

Por isso aquilo que vou fazer neste podcast é repetir por cima, e agora gravando em casa, por isso não reparem quando não ouvirem o barulho de fundo, porque eu gravei com a Andreia nos jardins da Gulbenkian, que são em Lisboa e é um jardim no meio da cidade que tem muito espaço e muitos pássaros, e muito barulho envolvente. É ao pé do museu de arte moderna, do museu de arte contemporânea, e de vez em quando até passavam aviões, por isso... Agora em casa, é noite, ninguém está a fazer barulho, por isso não estranhem a diferença de sons. Bem, eu agora vou introduzir-vos um bocado na conversa, como fiz na altura. A minha colega Andreia vive em Setúbal, ela é minha colega de um curso multimédia de jornalismo que eu estou a fazer para complementar a minha licenciatura. Eu estou a acabar a minha licenciatura em jornalismo. E esse curso que estamos a fazer, esse curso multimédia, tem como objectivo a produção de um site com conteúdos sobre Setúbal. Então uma das ideias que a gente teve foi fazer uma espécie de sete maravilhas de Setúbal. Escolhemos sete lugares de Setúbal, depois fizemos uma peça com áudio e com fotografias acerca desses sítios que tínhamos escolhido. Um deles foi as Fontaínhas, que é um bairro, um bairro de pescadores.

Porque Setúbal é uma cidade à beira-rio, e o rio e a pesca sempre foram actividades que tiveram sempre muito presentes na vida dos setubalenses. Por isso pensámos que esse bairro típico era uma boa ideia para a gente fazer um trabalho. A Andreia viveu lá em pequena e foi acerca da sua vida lá em pequena que nós estivemos a conversar.

Andreia : Então queres que eu fale do bairro onde vivi. Quando eu era miúda viviam muitas crianças no bairro das Fontainhas. A escola era relativamente perto, nós íamos a pé, íamos sempre em grupo: cinco, seis, sete, dependendo. O que acontecia é que a Andreia saia de casa, da casa da ama, sozinha, subia aquela rua, subia até à porta do primeiro colega que fazia companhia até à porta do segundo colega, e assim íamos todos em grupo para a escola, o que era muito engraçado porque acabámos por crescer todos juntos. Éramos da mesma turma. Íamos e vínhamos da escola (SPEAKING ERROR: the verb IR asks for the preposition PARA and the verb VIR ask for the preposition DE. So the correct way is: Íamos para a escola e vínhamos da escola or íamos para a escola e vínhamos de lá) uns com os outros… esta parte não ficou muito bem, mas tu percebeste. Ninguém nos fazia mal, éramos muito unidos. E o caminho para a escola era sempre recheado de brincadeiras e malandrices: coisas de miúdos! Então esse bairro foi o bairro onde a minha família se formou, onde se começou a construir, porque a minha mãe nasceu no número oito, eu acho que foi… vou dizer, no número oito do largo das machadas, que é perto de onde para mais tarde foi morar e na altura era um sitio que, como ficava muito perto do rio, era onde os pescadores da altura moravam, porque era muito fácil saírem de casa… era muito fácil, não era fácil, não era uma vida fácil, mas era fácil saírem de casa para ver se o barco estava bem amarrado, para ver se as redes estavam prontas para ir para o mar, para se certificarem de que estava tudo certo. Porque é o ganha-pão e foi durante muitos anos o ganha-pão daquela gente. O que havia para comer, o que havia para gastar era o que o mar dava. E muitas vezes o mar não era generoso.

Susana: Pois. É que Setúbal é uma cidade à beira rio, à beira do rio Sado. E apesar de ser uma cidade que está na margem sul do rio Tejo, portanto a trinta, quarenta quilómetros de Lisboa, Setúbal é uma cidade que está à beira do rio Sado. É uma cidade bonita, que em tempos foi muito pobre, onde só moravam pescadores e operários. E é mesmo isso que a Andreia disse, a verdade é que o mar tanto podia ser muito generoso, como ser muito pouco generoso. E aquilo que as pessoas comiam e o dinheiro que as pessoas tinham vinha do mar. E o bairro das Fontainhas é um bairro no cimo de Setúbal, numa zona alta da cidade, e as casas eram simples e modestas com um, dois andares, mas com dois ou três quartos e ai viviam famílias muito grandes e em condições humildes porque o dinheiro que vinha do mar não era muito e muitas vezes nem dava para viver só com o dinheiro que vinha do mar.

Andreia: No bairro das Fontainhas temos hoje o museu do trabalho que foi há muitos anos uma fábrica de conservas. A indústria conserveira foi o ganha-pão de muita gente, deu trabalho a muita gente, inclusive algumas tias minhas, também tive tias que trabalharam na indústria conserveira, tias-avós, na altura ganhavam muito pouco, mas era o trabalho que havia. E não era um trabalho nada fácil: porque meter a mão no peixe e nas escamas e nas espinhas e o peixe muitas vezes ainda vinha gelado, vinha fresco, vinha directamente do rio... E alguém tinha de fazer esse trabalho, salgá-lo, primeiro amanhá-lo, depois salgá-lo, colocá-lo nos sítios certos para depois ser embalado, ser conservado.

Susana: Bem, a conversa com a Andreia demorou mais alguns minutos, mas eu vou deixar o resto da conversa para um segundo podcast que hei-de postar mais ou menos ao mesmo tempo que este. A verdade é que é importante perceber que Setúbal (em especial o bairro das Fontainhas) foi uma cidade que há cerca de trinta, quarenta anos vivia muito do peixe, mas hoje já não vive tanto dele. É uma cidade onde já há muito imigrantes, brasileiros, ucranianos, pessoas vindas de leste, e que começaram a ocupar as casas desses pescadores e que as conseguem recuperar e estimar. E pronto acerca dessas actividades: as pessoas continuam a ter um grande respeito e um grande orgulho por quem viveu do rio e do mar, porque se sabe que foram actividades bastante difíceis.

No próximo podcast com a Andreia vamos ainda falar acerca do miradouro, das vizinhas que são… todos nós temos vizinhas, não é? Mas as vizinhas portuguesas têm uma característica, não são só as de Setúbal, as vizinhas portuguesas têm uma característica que eu não sei se há em todo o lado. E vamos também falar de roupa estendida, roupa estendida nas varandas – o que não se vê só em Lisboa. Talvez também seja uma característica especial dos portugueses. Não percam o próximo podcast em www.portugueselingq.com Até lá!

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Susana: Olá bem vindos a mais um podcast do LingQ. Eu, há alguns dias, estive a falar com uma colega minha chamada Andreia acerca da sua cidade, acerca de Setúbal. E nós estivemos a conversar, mas como só tínhamos um microfone e ela é que o tinha, a minha voz ficou-se a ouvir mesmo muito ao fundo, e era mesmo difícil compreender aquilo que eu dizia, por isso…. E eu só reparei, acabei por só reparar nisso quando cheguei a casa e depois tive a ouvir aquilo que tínhamos gravado.


Por isso aquilo que vou fazer neste podcast é repetir por cima, e agora gravando em casa, por isso não reparem quando não ouvirem o barulho de fundo, porque eu gravei com a Andreia nos jardins da Gulbenkian, que são em Lisboa e é um jardim no meio da cidade que tem muito espaço e muitos pássaros, e muito barulho envolvente. É ao pé do museu de arte moderna, do museu de arte contemporânea, e de vez em quando até passavam aviões, por isso...


Agora em casa, é noite, ninguém está a fazer barulho, por isso não estranhem a diferença de sons. Bem, eu agora vou introduzir-vos um bocado na conversa, como fiz na altura. A minha colega Andreia vive em Setúbal, ela é minha colega de um curso multimédia de jornalismo que eu estou a fazer para complementar a minha licenciatura. Eu estou a acabar a minha licenciatura em jornalismo. E esse curso que estamos a fazer, esse curso multimédia, tem como objectivo a produção de um site com conteúdos sobre Setúbal. Então uma das ideias que a gente teve foi fazer uma espécie de sete maravilhas de Setúbal. Escolhemos sete lugares de Setúbal, depois fizemos uma peça com áudio e com fotografias acerca desses sítios que tínhamos escolhido. Um deles foi as Fontaínhas, que é um bairro, um bairro de pescadores.


Porque Setúbal é uma cidade à beira-rio, e o rio e a pesca sempre foram actividades que tiveram sempre muito presentes na vida dos setubalenses. Por isso pensámos que esse bairro típico era uma boa ideia para a gente fazer um trabalho. A Andreia viveu lá em pequena e foi acerca da sua vida lá em pequena que nós estivemos a conversar.


Andreia: Então queres que eu fale do bairro onde vivi. Quando eu era miúda viviam muitas crianças no bairro das Fontainhas. A escola era relativamente perto, nós íamos a pé, íamos sempre em grupo: cinco, seis, sete, dependendo. O que acontecia é que a Andreia saia de casa, da casa da ama, sozinha, subia aquela rua, subia até à porta do primeiro colega que fazia companhia até à porta do segundo colega, e assim íamos todos em grupo para a escola, o que era muito engraçado porque acabámos por crescer todos juntos. Éramos da mesma turma. Íamos e vínhamos da escola (SPEAKING ERROR: the verb IR asks for the preposition PARA and the verb VIR ask for the preposition DE. So the correct way is: Íamos para a escola e vínhamos da escola or íamos para a escola e vínhamos de lá) uns com os outros… esta parte não ficou muito bem, mas tu percebeste. Ninguém nos fazia mal, éramos muito unidos. E o caminho para a escola era sempre recheado de brincadeiras e malandrices: coisas de miúdos! Então esse bairro foi o bairro onde a minha família se formou, onde se começou a construir, porque a minha mãe nasceu no número oito, eu acho que foi… vou dizer, no número oito do largo das machadas, que é perto de onde para mais tarde foi morar e na altura era um sitio que, como ficava muito perto do rio, era onde os pescadores da altura moravam, porque era muito fácil saírem de casa… era muito fácil, não era fácil, não era uma vida fácil, mas era fácil saírem de casa para ver se o barco estava bem amarrado, para ver se as redes estavam prontas para ir para o mar, para se certificarem de que estava tudo certo. Porque é o ganha-pão e foi durante muitos anos o ganha-pão daquela gente. O que havia para comer, o que havia para gastar era o que o mar dava. E muitas vezes o mar não era generoso.


Susana: Pois. É que Setúbal é uma cidade à beira rio, à beira do rio Sado. E apesar de ser uma cidade que está na margem sul do rio Tejo, portanto a trinta, quarenta quilómetros de Lisboa, Setúbal é uma cidade que está à beira do rio Sado. É uma cidade bonita, que em tempos foi muito pobre, onde só moravam pescadores e operários. E é mesmo isso que a Andreia disse, a verdade é que o mar tanto podia ser muito generoso, como ser muito pouco generoso. E aquilo que as pessoas comiam e o dinheiro que as pessoas tinham vinha do mar. E o bairro das Fontainhas é um bairro no cimo de Setúbal, numa zona alta da cidade, e as casas eram simples e modestas com um, dois andares, mas com dois ou três quartos e ai viviam famílias muito grandes e em condições humildes porque o dinheiro que vinha do mar não era muito e muitas vezes nem dava para viver só com o dinheiro que vinha do mar.


Andreia: No bairro das Fontainhas temos hoje o museu do trabalho que foi há muitos anos uma fábrica de conservas. A indústria conserveira foi o ganha-pão de muita gente, deu trabalho a muita gente, inclusive algumas tias minhas, também tive tias que trabalharam na indústria conserveira, tias-avós, na altura ganhavam muito pouco, mas era o trabalho que havia. E não era um trabalho nada fácil: porque meter a mão no peixe e nas escamas e nas espinhas e o peixe muitas vezes ainda vinha gelado, vinha fresco, vinha directamente do rio... E alguém tinha de fazer esse trabalho, salgá-lo, primeiro amanhá-lo, depois salgá-lo, colocá-lo nos sítios certos para depois ser embalado, ser conservado.


Susana: Bem, a conversa com a Andreia demorou mais alguns minutos, mas eu vou deixar o resto da conversa para um segundo podcast que hei-de postar mais ou menos ao mesmo tempo que este. A verdade é que é importante perceber que Setúbal (em especial o bairro das Fontainhas) foi uma cidade que há cerca de trinta, quarenta anos vivia muito do peixe, mas hoje já não vive tanto dele. É uma cidade onde já há muito imigrantes, brasileiros, ucranianos, pessoas vindas de leste, e que começaram a ocupar as casas desses pescadores e que as conseguem recuperar e estimar. E pronto acerca dessas actividades: as pessoas continuam a ter um grande respeito e um grande orgulho por quem viveu do rio e do mar, porque se sabe que foram actividades bastante difíceis.


No próximo podcast com a Andreia vamos ainda falar acerca do miradouro, das vizinhas que são… todos nós temos vizinhas, não é? Mas as vizinhas portuguesas têm uma característica, não são só as de Setúbal, as vizinhas portuguesas têm uma característica que eu não sei se há em todo o lado. E vamos também falar de roupa estendida, roupa estendida nas varandas – o que não se vê só em Lisboa. Talvez também seja uma característica especial dos portugueses. Não percam o próximo podcast em www.portugueselingq.com

Até lá!