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Reportagem Especial - Sexualidade na Terceira Idade, A ameaça da Aids

Os últimos anos assistiram a uma abertura no que toca ao comportamento sexual de homens e mulheres com mais de 60 anos.

Com uma boa cabeça e uma vida ativa, nenhuma idade é obstáculo ao prazer. Essa nova realidade é muito boa, mas tem os seus poréns.

O mais perigoso deles é o crescimento da incidência de casos de Aids em pessoas com mais de 60 anos.

Cerca de 3% dos casos notificados de Aids são de pessoas idosas, o que significa cerca de 15 mil pessoas.

Pode parecer pouco, mas o número de casos nessa faixa etária cresceu 600% de 1991 para cá - o maior crescimentos entre todas as idades.

O doutor em imunologia, Aldo Henrique Tavares, destaca ainda que muitas vezes o diagnóstico demora a ser feito pois os médicos ainda não relacionam a Aids com a terceira idade.

"Quando o idoso chega ao consultório médico com sintomas de infecção aguda pelo HIV, que são sintomas totalmente inespecíficos, que podem ser parecidos com sintomas de gripe e outras infeções, que são comuns nessa faixa etária, o médico tenta por todos os lados traçar um diagnóstico, porém esquece do HIV. E o paciente, provavelmente por vergonha, também não cita elações sexuais." O diagnóstico de Aids demorou quase um ano para Beatriz Pacheco, que foi diagnosticada com o HIV quando tinha 48 anos.

Beatriz foi infectada pelo marido, que adquiriu o vírus em uma transfusão de sangue. Anos depois, já casada com um outro parceiro, a descoberta do HIV.

O atual marido não tinha sido infectado e os dois seguiram juntos. Beatriz conta que o problema era contornar o constrangimento de comprar preservativos nas farmácias.

"A dificuldade disso, com quase 50 anos, aprender a usar um preservativo. A gente foi para as farmácias procurar, e olhar preservativos e nós éramos motivo de chacota nas farmácias porque o que que dois velhos olhavam preservativo, se no imaginário coletivo a gente sequer é sexuado. Sorte que meu marido era um homem muito brincalhão, e ele brincava com a turma e dizia "a gente é sexuado sim, a gente tem relação sexual, tá pensando o quê do velhinho?" Antes do constrangimento de comprar camisinhas na farmácia, vem um outro problema: negociar o uso do preservativo nessa faixa de idade.

Os homens mais velhos relutam, pois não foram educados com a cultura da camisinha. Além disso, muitos se queixam que perdem a ereção ao colocar o preservativo.

Quem mais se prejudica são as mulheres, que muitas vezes são infectadas pelos maridos com quem convivem há décadas, como destaca o imunologista Aldo Henrique Tavares.

"É muito complicado para a mulher chegar depois de 30, 40 anos de casados e chegar pro seu companheiro: Olha, eu preciso que você use a camisinha. E uma questão muito complicada de ser abordada. Isso só vai mudar se houver uma conscientização, uma campanha pública em relação a estimular a saúde da mulher, e também colocar para o homem a necessidade do uso da camisinha. Daí ele usaria camisinha e não infectaria a sua companheira." Hoje, aos 60 anos, Beatriz Pacheco é uma ativista pela prevenção da Aids. A cada dia ela vê mais e mais mulheres maduras com o diagnóstico.

"Eu costumo dizer que nós somos as cinderelas da Aids, aquelas que sonhamos com um príncipe encantado, e a maior parte de nós teve um único parceiro na vida, e a maior parte de nós se infectou dentro do seu próprio lar, na sua própria cama. É um diferencial, é uma coisa bem difícil, bem complicada. E ainda acrescido a isso, a fantasia de que nós não somos mais sexuados. O ser humano nasce sexuado e morre sexuado. Isso é importante que se veja, é importante que haja esse olhar para nós, mais velhos, com a delicadeza que tem que existir, pela dificuldade que nós temos de tratar os assuntos de sexo." Beatriz comemora que neste carnaval de 2009, pela primeira vez o Ministério da Saúde lançou uma campanha voltada para as mulheres mais velhas.

Beatriz lembra que a mulher tem dificuldade em negociar a camisinha com o parceiro, sim, mas que isso acontece em todas as faixas etárias.

Na terceira idade complica um pouco mais pela dificuldade de alguns homens em manter a ereção com o preservativo.

Ela aponta ainda que depois dos 50, já na menopausa, as mulheres deixam de se preocupar com gravidez e não vêem a Aids como um perigo próximo.

"O medo de perder o parceiro faz com que a gente faça uma coisa que eu reputo absurda: a gente deixa na mão do homem a nossa vida e a nossa saúde, exatamente igual ao que fazia a mulher na idade média. E é surpreendente, porque nós estamos em 2009, e a gente ainda não assumiu as rédeas da própria vida. Inclusive o que eu acho mais sério é que a gente sequer se vê vulnerável ao vírus, sequer percebe que o vírus possa ser pra gente também." Mas felizmente a prevenção de Aids depois dos 60 não é feita só de dificuldades.

O amor e o cuidado consigo mesmo também fazem parte da história. Nicodemus Nascimento tem 68 anos e com ele não tem conversa: é camisinha na hora.

"Eu cuido da minha saúde, por isso que estou assim, não tem quem diga que eu tenho essa idade toda porque eu cuido da minha saúde. Não transo com mulher que eu não conheço e as que eu conheço, bilau velho vestido mesmo." Nicodemus faz o alerta: A Aids não é a única doença transmitida sexualmente.

"Eu tenho muito medo, saúde, quem cuida de nós, quem gosta mais nós, somos nós. Tem que cuidar o máximo. Doença pra entrar é daqui pra ali, e pra sair, meu Deus. Tem por obrigação de usar, porque doenças são muitas, não é só Aids não, viu, minha filha, são muitas." Além da Aids, a hepatite C também é transmitida na relação sexual, além de doenças venéreas como a sífilis. Fique esperto. O prazer não tem idade. E a Aids também não.

De Brasília, Daniele Lessa

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Os últimos anos assistiram a uma abertura no que toca ao comportamento sexual de homens e mulheres com mais de 60 anos.

Com uma boa cabeça e uma vida ativa, nenhuma idade é obstáculo ao prazer. Essa nova realidade é muito boa, mas tem os seus poréns.

O mais perigoso deles é o crescimento da incidência de casos de Aids em pessoas com mais de 60 anos.

Cerca de 3% dos casos notificados de Aids são de pessoas idosas, o que significa cerca de 15 mil pessoas.

Pode parecer pouco, mas o número de casos nessa faixa etária cresceu 600% de 1991 para cá - o maior crescimentos entre todas as idades.

O doutor em imunologia, Aldo Henrique Tavares, destaca ainda que muitas vezes o diagnóstico demora a ser feito pois os médicos ainda não relacionam a Aids com a terceira idade.

"Quando o idoso chega ao consultório médico com sintomas de infecção aguda pelo HIV, que são sintomas totalmente inespecíficos, que podem ser parecidos com sintomas de gripe e outras infeções, que são comuns nessa faixa etária, o médico tenta por todos os lados traçar um diagnóstico, porém esquece do HIV. E o paciente, provavelmente por vergonha, também não cita elações sexuais."

O diagnóstico de Aids demorou quase um ano para Beatriz Pacheco, que foi diagnosticada com o HIV quando tinha 48 anos.

Beatriz foi infectada pelo marido, que adquiriu o vírus em uma transfusão de sangue. Anos depois, já casada com um outro parceiro, a descoberta do HIV.

O atual marido não tinha sido infectado e os dois seguiram juntos. Beatriz conta que o problema era contornar o constrangimento de comprar preservativos nas farmácias.

"A dificuldade disso, com quase 50 anos, aprender a usar um preservativo. A gente foi para as farmácias procurar, e olhar preservativos e nós éramos motivo de chacota nas farmácias porque o que que dois velhos olhavam preservativo, se no imaginário coletivo a gente sequer é sexuado. Sorte que meu marido era um homem muito brincalhão, e ele brincava com a turma e dizia "a gente é sexuado sim, a gente tem relação sexual, tá pensando o quê do velhinho?"

Antes do constrangimento de comprar camisinhas na farmácia, vem um outro problema: negociar o uso do preservativo nessa faixa de idade.

Os homens mais velhos relutam, pois não foram educados com a cultura da camisinha. Além disso, muitos se queixam que perdem a ereção ao colocar o preservativo.

Quem mais se prejudica são as mulheres, que muitas vezes são infectadas pelos maridos com quem convivem há décadas, como destaca o imunologista Aldo Henrique Tavares.

"É muito complicado para a mulher chegar depois de 30, 40 anos de casados e chegar pro seu companheiro: Olha, eu preciso que você use a camisinha. E uma questão muito complicada de ser abordada. Isso só vai mudar se houver uma conscientização, uma campanha pública em relação a estimular a saúde da mulher, e também colocar para o homem a necessidade do uso da camisinha. Daí ele usaria camisinha e não infectaria a sua companheira."

Hoje, aos 60 anos, Beatriz Pacheco é uma ativista pela prevenção da Aids. A cada dia ela vê mais e mais mulheres maduras com o diagnóstico.

"Eu costumo dizer que nós somos as cinderelas da Aids, aquelas que sonhamos com um príncipe encantado, e a maior parte de nós teve um único parceiro na vida, e a maior parte de nós se infectou dentro do seu próprio lar, na sua própria cama. É um diferencial, é uma coisa bem difícil, bem complicada. E ainda acrescido a isso, a fantasia de que nós não somos mais sexuados. O ser humano nasce sexuado e morre sexuado. Isso é importante que se veja, é importante que haja esse olhar para nós, mais velhos, com a delicadeza que tem que existir, pela dificuldade que nós temos de tratar os assuntos de sexo."

Beatriz comemora que neste carnaval de 2009, pela primeira vez o Ministério da Saúde lançou uma campanha voltada para as mulheres mais velhas.

Beatriz lembra que a mulher tem dificuldade em negociar a camisinha com o parceiro, sim, mas que isso acontece em todas as faixas etárias.

Na terceira idade complica um pouco mais pela dificuldade de alguns homens em manter a ereção com o preservativo.

Ela aponta ainda que depois dos 50, já na menopausa, as mulheres deixam de se preocupar com gravidez e não vêem a Aids como um perigo próximo.

"O medo de perder o parceiro faz com que a gente faça uma coisa que eu reputo absurda: a gente deixa na mão do homem a nossa vida e a nossa saúde, exatamente igual ao que fazia a mulher na idade média. E é surpreendente, porque nós estamos em 2009, e a gente ainda não assumiu as rédeas da própria vida. Inclusive o que eu acho mais sério é que a gente sequer se vê vulnerável ao vírus, sequer percebe que o vírus possa ser pra gente também."

Mas felizmente a prevenção de Aids depois dos 60 não é feita só de dificuldades.

O amor e o cuidado consigo mesmo também fazem parte da história. Nicodemus Nascimento tem 68 anos e com ele não tem conversa: é camisinha na hora.

"Eu cuido da minha saúde, por isso que estou assim, não tem quem diga que eu tenho essa idade toda porque eu cuido da minha saúde. Não transo com mulher que eu não conheço e as que eu conheço, bilau velho vestido mesmo."

Nicodemus faz o alerta: A Aids não é a única doença transmitida sexualmente.

"Eu tenho muito medo, saúde, quem cuida de nós, quem gosta mais nós, somos nós. Tem que cuidar o máximo. Doença pra entrar é daqui pra ali, e pra sair, meu Deus. Tem por obrigação de usar, porque doenças são muitas, não é só Aids não, viu, minha filha, são muitas."

Além da Aids, a hepatite C também é transmitida na relação sexual, além de doenças venéreas como a sífilis. Fique esperto. O prazer não tem idade. E a Aids também não.

De Brasília, Daniele Lessa