Nesta semana, a Rádio Câmara apresenta uma série de reportagens sobre o aquecimento global. Muito se fala sobre as causas e os efeitos das mudanças climáticas, mas a jornalista Daniele Lessa apresenta um outro enfoque: como as pessoas, nas suas casas, podem contribuir para evitar os efeitos do aquecimento global? O que está ao alcance de todos para a preservação dos recursos do planeta?
Confira os detalhes.
Reportagem Especial.
A Torre Eifel em Paris. O Cristo Redentor no Brasil. A Basílica de São Pedro no Vaticano e a Casa Branca nos Estados Unidos. No dia 28 de março, monumentos e casas do mundo inteiro apagaram suas luzes para lembrar que o aquecimento global é uma realidade. A Ong WWF estima a participação de um bilhão de pessoas, em 88 países. Todo mundo no escuro.
Hoje se fala exaustivamente em aquecimento global. As revistas e tv´s explicam, e as rádios também, claro. As escolas, as organizações não governamentais e os políticos falam. Mas as pessoas nas suas casas já modificaram seus hábitos para atenuar os efeitos das mudanças climáticas? O professor do Departamento de Psicologia Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, José Pinheiro, aponta que não, que a maior parte das pessoas não se vê como parte do problema.
"Nós nos vemos como diferentes da natureza, o ser humano quando fala dos problemas ambientais ele acha que esses problemas estão acontecendo lá no meio do mato, na floresta amazônica, nas calotas polares que estão derretendo, e a gente não se percebe como fazendo parte disto. A maioria dos problemas que a gente chama de ambientais na verdade são humano ambientais porque são problemas nossos e fomos nós que causamos." E quem causou o problema? Quem tem de consertá-lo? Vem sendo cada vez menos importante apontar os países desenvolvidos como os responsáveis pelo aquecimento global. É certo que foram as emissões deles que desenharam essa situação, mas a mudança de paradigma de consumo tem que que chegar para todos, como destaca o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
"Essa geração nossa e a próxima são as que terão que transpor essa ponte e ir nessa transição. A mudança do dia-a-dia ela acontecerá as pessoas terão que ter sonhos de consumo eles terão que ter uma diferente ordem, que não representem um impacto muito grande no meio ambiente. É um processo lento mas eu acho inevitável." No que toca ao Brasil, Carlos Nobre destaca que a população em geral não se vê como agente de transformação, mas que isso vem mudando aos poucos.
"O povo brasileiro, ele se sente um pouco sem poder frente aos grandes interesses econômicos, aos governos. O poder da cidadania ainda tem uma baixa implementação. Mas crescente." A professora universitária Zara Magalhães concorda com esse ponto de vista e destaca que quando o assunto é aquecimento global, as pessoas esperam que alguém resolva o problema.
"As pessoas sempre esperam que cientistas, que biólogos, as pessoas envolvidas diretamente com a questão do aquecimento tomem providência. Parece que o aquecimento global passa nas tvs, na mídia em geral, como algo bem distante do nosso dia a dia, muito distante do nosso bairro, da nossa casa." Mas Zara Magalhães é uma das pessoas que assumiram uma postura ativa diante do aquecimento global. Sua crença de que cada pessoa deve fazer sua parte se reflete em pequenas ações, como economizar energia, abrir mão das sacolinhas do mercado, dos copos descartáveis e ter uma postura menos consumista. São pequenas ações ao alcance de todos, e o planeta agradece.
"Tomar um banho menos demorado, fazer opções de compras por produtos que não provoquem tanta degradação ambiental, pelo simples fato de negar a usar uma sacolinha, pelo simples fato de você não usar um copo descartável. Ter uma xicrinha, ter um copinho de vidro no seu ambiente de trabalho. Você não precisa trocar o seu celular sempre, não precisa trocar o seu tênis sempre. Essa minimização de consumo, consciente, achando que você pode melhorar a questão ambiental e realmente pode, com suas ações, pelo simples fato de mudar conscientemente o seu comportamento." É importante que as pessoas saibam que viver no mundo de hoje representa emissões de carbono. Parece conversa de ecochato, mas é assim mesmo que funciona. Usar o carro, comprar aparelhos eletrônicos, consumir carne. Tudo isso se reflete em emissões de gases de efeito estufa. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Idec, lançou uma calculadora de carbono. Lá, você diz quantas pessoas moram na sua casa, quantos carros, número de viagens de avião por ano, qual o seu consumo de energia. O resultado assusta: uma família de quatro pessoas e dois carros emite cerca de 6 mil quilos de gás carbônico por ano. A coordenadora da campanha, Liza Gun, explica que o passo seguinte é pensar se estou disposto a mudar meus hábitos para diminuir minhas emissões.
"Uma série de informações pro consumidor perceber que sua vida no dia-a-dia está emitindo gases de efeito estufa e no segundo momento a calculadora te permite calcular quanto você é capaz de reduzir com mudanças no seu hábito de consumo. Se você usa carros todos os dias, quantos dias você está disposto a abrir mão dele e quanto isso significa de economia? Economia no sentido de reduzir as emissões. A mesma coisa se você está disposto a deixar de viajar de avião tantas vezes, se você adotar a reciclagem do lixo." Para quem quiser se aventurar, a calculadora está na página do Idec na internet, no endereço www.climaeconsumo.org.br. Mas relaxe, não se trata de fazer alarmismo. Até porque o Brasil é apontado pela National Geographic Society como o povo de hábitos mais sustentáveis, dentre 14 países pesquisados. O nosso bicho papão é o desmatamento, que responde por 70% das emissões o país e coloca o Brasil em quinto lugar na lista dos maiores emissores globais. Ainda assim, os Estados Unidos emitem mais de duzentas vezes a quantidade liberada pelo Brasil. Mas essa constatação não precisa impedir que desde já os brasileiros busquem hábitos mais sustentáveis de consumo, não é mesmo? E você, já se perguntou como pode contribuir?
De Brasília, Daniele Lessa