2. EXPRESSÕES DE DURAÇÃO COM O VERBO HAVER No programa anterior vimos várias especificidades do verbo haver. Hoje encontramos este verbo, unicamente na 3ª pessoa do singular, a integrar expressões adverbiais relacionadas com localização de tempo e simultaneamente a medir, de forma mais precisa ou mais indefinida, o intervalo de tempo que decorre até ao momento da enunciação, ou seja, até ao momento em que se fala. Vejamos as ocorrências no diálogo: João: - De facto, também é uma forma de vermos a Ponte 25 de Abril assim, em toda a sua extensão. Há bocado, quando por lá passámos, reparei naquelas estruturas todas e impressionante, mesmo só vista de baixo, não achas?
João: - Foi há um ou dois dias. Li num folheto turístico, lá no hotel.
Quando o João diz “há bocado quando por lá passámos...” a expressão há bocado remete para uma situação que ocorreu há pouco tempo atrás, mesmo que não se saiba exactamente há quantos minutos ou há quantas horas. Esta expressão é usada em contextos informais.
Na expressão seguinte, o João já é um pouco mais concreto ao localizar e medir o momento, aquele momento em que leu o folheto no hotel, facto que aconteceu há um ou dois dias. Como estas, muitas outras expressões podem ser construídas a partir desta forma há. Os quadros que se seguem procuram exemplificar a diversidade de expressões temporais que podem ser formadas deste mesmo modo: Há bocado Há bocadinho As expressões de tempo há bocado e há bocadinho são muito frequentemente usadas para indicar um período de tempo curto mas não bem delimitado. Pode ir de alguns minutos – bocadinho - a um período mais alargado, que chega a atingir algumas horas – bocado.
Com a forma há é também possível construir expressões de duração indefinidas não-contáveis, como mostram os exemplos do quadro: Há muito tempo Há pouco tempo Há algum tempo Há bastante tempo E também é possível construir expressões plurais de duração, contáveis e não contáveis, associando a forma há a palavras que exprimem claramente períodos de tempo, (como podemos ver neste quadro:) Há um(a) segundo(s) uns /umas minuto(s) dois /duas hora(s) três ... dia(s) cerca de + nº (1, 2,...) semana(s) muitos mês/meses poucos ano(s) alguns bastantes É perfeitamente possivel dizer, por exemplo, que um evento aconteceu há 5 minutos, ou há cerca de 2 horas, ou que a Ana esteve em Portugal há 10 anos ou há cerca de 10 anos. Ou ainda que o João não vinha cá há muitos anos, ou há bastantes anos.
(EXPRESSAR VONTADE) A Ana, cheia de curiosidade sobre o que a cerca, exprime a sua vontade: ela não quer perder a oportunidade de experimentar e de conhecer um pouco mais. Para isso, ela manifesta a sua vontade. Vejamos como ela o faz: João: - Pastéis de Belém? Já ouvi falar nisso. Ana: - Quero provar... Será que nos dão a receita? Ouvi dizer que é segredo.
(Ana: - Por várias razões. Vamos andar imenso a pé. Quero ver o Padrão, a Rosa dos Ventos e, sobretudo, a Torre, em pormenor. No regresso, vai saber muito bem descansar na esplanada do CCB, virada para o rio.)
Ela usa o verbo querer e o infinitivo de outro verbo. Esta é uma das construções seleccionadas por querer. É um verbo usado para exprimir vontade e pode seleccionar frases completivas de infinitivo não flexionado. É o que acontece nestes dois exemplos do diálogo.
A Ana quer provar os pastéis e também quer ver o Padrão dos Descobrimentos e a Rosa dos Ventos. Vejamos o quadro: (EXPRESSAR VONTADE QUERER + VERBO NO INFINITIVO) Quero provar pastèis de Belém. Quero ver o Padrão, a Rosa dos ventos e sobretudo a Torre.
Bom, por mim despeço- me. Até ao próximo programa. (De seguida, poderá ainda descobrir um pouco de Belém, um local carregado de história.)
Quando se chega à enorme Praça do Império, o olhar incide, naturalmente, sobre o Mosteiro dos Jerónimos. Para trás ficam muitos exemplos de épocas passadas, dos tempos da monarquia. É o caso do Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República, da Praça Afonso de Albuquerque em frente do Palácio, (das casinhas coloridas dos séc. XVI e XVII, que contrastam com os edifícios mais modernos.) do Jardim Agrícola Tropical, com plantas exóticas oriundas de África, No entanto, é a presença do Mosteiro que se impõe ao visitante, não só pela beleza mas também como um símbolo da riqueza da época dos Descobrimentos e da arquitectura manuelina. Foi mandado construir pelo rei D. Manuel I por volta de 1501, pouco depois de Vasco da Gama ter regressado da Índia.
No interior, os claustros formam um conjunto harmonioso entre arcadas em abóbada e colunas em pedra esculpida, sempre rendilhada, que contornam um jardim muito tranquilo.
A Igreja impressiona pela abóbada e pelos elegantes e delicados pilares que se erguem como se fossem palmeiras criando o ambiente adequado à reflexão e à descoberta da paz interior. A Ordem de S. Jerónimo foi responsável pelo mosteiro até 1834, ano em que as ordens religiosas foram extintas em Portugal. Anos depois foi acrescentada a ala moderna, em estilo neomanuelino, que é hoje ocupada pelo Museu Nacional de Arqueologia. (Um pouco mais adiante, o Museu da Marinha,) na ala oeste do Mosteiro, mostra, entre muitas e diversas colecções, a evolução ocorrida na construção das caravelas e das naus que foram tão importantes na travessia dos oceanos e na descoberta das rotas marítimas.
Ainda para o lado esquerdo, o Planetário procura mostrar planetas, estrelas e outros mistérios do céu à noite.
O lado oeste da Praça do Império é ocupado pelo Centro Cultural de Belém, cuja arquitectura bastante moderna se harmoniza em simplicidade com a imponência do local. A sua inauguração coincidiu com a presidência portuguesa da Comunidade Europeia em 1993. A partir de então, tornou-se um espaço muito activo dedicado às artes de onde se destacam a música, o teatro, a fotografia e o design. Os seus cafés virados para o rio são um agradável ponto de encontro (para quem quer estudar ou simplesmente encontrar amigos e conversar.)
Na margem do rio Tejo ergue-se, em frente do Mosteiro, o Monumento aos Descobrimentos, construído em 1960 para comemorar os 500 anos da morte do Infante D. Henrique, o Navegador.
Tem a forma de uma caravela e recorda todos os que participaram no desenvolvimento dos Descobrimentos.
Do alto dos seus 52 metros, para além de uma fantástica vista sobre toda a Praça do Império, estuário do Tejo (e margem sul,) é possível ver uma enorme rosa-dos-ventos embutida no chão onde estão desenhadas as rotas dos diversos caminhos percorridos pelos descobridores portugueses durante os séc. XV e XVI. (Foi uma oferta da República Sul-Africana.)
Indo ainda mais para oeste, junto ao rio, somos surpreendidos com outra pérola da arquitectura manuelina: a Torre de Belém. Foi construída entre 1515 e 1521, sob ordem de D. Manuel I, para funcionar como fortaleza por entre as águas do rio Tejo.
A sua beleza exterior deve-se ao conjunto de galerias abertas, às torres de vigia (em estilo árabe) às ameias (em forma de escudos) e, ainda, ao rendilhado das pedras esculpidas com cordas e nós náuticos.
A vista das salas existentes nos três andares da torre é notável. No terraço, uma imagem da Senhora do Bom Regresso, virada para o mar, constitui ainda um símbolo de protecção para os marinheiros.
Olhando para terra a partir da Torre, no sentido norte, podemos ainda ver ao fundo, no cimo de uma colina, uma pequeníssima capela, a Ermida de S. Jerónimo, também de estilo manuelino muito sóbrio, orientada para a foz do rio Tejo.
Também ela parece enquadrar todo este espaço rematando com simplicidade a riqueza de todo este ambiente comemorativo de uma época de aventura e descoberta.