No final de março, o governo anunciou uma série de medidas para que a crise financeira mundial não faça tanto estrago na economia brasileira e, acima de tudo, não produza tanto desemprego. Ao anunciar as medidas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez questão de salientar que, até agora, nenhum banco brasileiro apresentou problemas sérios por causa da crise mundial. Mas, como os bancos pararam de ter recursos para financiar suas atividades, foi criado um fundo garantidor de crédito.
"Com isto, haverá uma vantagem de se fazer de novo aplicações nesses bancos, sem nenhum risco, e com uma remuneração um pouquinho maior. Com isto estaremos reativando um segmento do mercado que não estava funcionando. Acreditamos que com isto nós vamos dar um novo estímulo ao financiamento de motos, automóveis usados, que são importantes para a venda dos automóveis novos, e assim por diante." O professor de economia da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, acha que a criação de um fundo garantidor de crédito foi uma medida acertada.
"É importante que se crie esse fundo garantidor, eu acho que foi muito feliz a decisão do governo de tomar essa providência, ela até demorou um pouquinho. Eu espero que, somada às demais medidas de incentivo de redução de impostos, o gasto do governo, tudo isso vai ajudar bastante a economia a não sofrer tanto, uma coisa vai sofrer, mas eu acho que agora o governo, ainda com o programa imobiliário, ele pode conseguir conter, reduzir o impacto da crise e fazer com que o Brasil possa sair mais cedo." Outras medidas anunciadas foram a redução do IOF para o crédito a pessoa física, e do Imposto de Renda retido na fonte. A redução do IPI para compra de automóveis foi prorrogada, e foram adotadas medidas para estimular também a venda de motocicletas. O governo também investe suas fichas no mercado imobiliário. Reduziu impostos para compra de material de construção, criou um programa para construir 1 milhão de casas populares e também abriu crédito para compra de imóveis pela classe média.
O aumento do desemprego é um assunto que demanda medidas urgentes do governo. Segundo o IBGE, em dezembro, a taxa de emprego industrial recuou 1,8%. Essa foi a maior queda na comparação com o mês anterior desde 2001. Por isso, os trabalhadores que foram demitidos em dezembro do ano passado tiveram seu seguro-desemprego prorrogado por dois meses. O que não quer dizer que todos terão direito a esse benefício ampliado, explica o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi.
"Setores da economia que tenham demitido uma média negativa de 30% a mais, comparado com os anos anteriores, a partir de 2003. Feita essa média, nós vemos, por setor, por estado, e deu resultado de 102 mil trabalhadores, que receberão duas parcelas a mais. Quem recebe três parcelas, vai receber cinco, quem recebe cinco parcelas vai receber sete." Lupi explica que, se fosse observada uma média continuada de demissões acima de 30%, poderia ser solicitado que quem foi demitido nos primeiros meses de 2009 também recebesse a ampliação do benefício. Mas essa alta nas demissões não foi verificada e, por isso, o ministro está otimista, e acha que o país já começou a sair da crise. O professor Jorge Pinho, do Departamento de Administração da UnB, especialista em mercado de trabalho, acha que o governo deve tomar medidas práticas para garantir o emprego.
"Os Estados Unidos, na grande depressão, o Roosevelt optou por eletrificar o vale do Tenessee, uma região pobre, fazer isso manualmente, com trabalhadores, não com máquinas, não com equipamentos, embora já existissem, eletrificaram o vale todo manualmente, com mão de obra só. O que isso faz? Distribui, paga muita gente por um trabalho produtivo que vai redundar em desenvolvimento. Então você poderia imaginar fazer algo parecido com as estradas brasileiras." O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que, para garantir empregos, o governo manteve e ampliou os investimentos do PAC, estimulando os empresários a fazer mais turnos de trabalho.
"Inclusive, há uma recomendação do presidente Lula para que as obras que estão em andamento sejam aceleradas, porque não falta dinheiro do governo para elas. E está estimulando aos empresários que coloquem mais turnos de trabalho. Em vez de fazer uma obra em dois anos, faz em um ano. Duplica o turno de trabalho e aumenta o nível de empregos. Estamos estimulando isso." A especialista de emprego na Organização Internacional do Trabalho - OIT - Janine Berg, diz que o Bolsa Família é um instrumento muito importante para que o Brasil atravesse a crise. Isso porque o programa dá proteção social aos mais pobres e estimula a economia, porque as pessoas vão consumir mais se tiverem mais dinheiro. Isso a um custo baixo, 0,4% do PIB, que é o que custa o bolsa-família para o Brasil. Mas com o aumento do desemprego, Janine Berg acha que o país tem que fazer mais.
"Eu estenderia o seguro-desmprego a todos os trabalhadores, não somente àqueles que são mais afetados pela crise. Eu acho que um trabalhador desempregado é um trabalhador desempregado, acho que todos deveriam receber essa extensão do seguro-desemprego. E também acho que dá espaço para aumentar o benefício da bolsa-família. Um benefício entre 20 e 180 reais por mês, que não é muito dinheiro. Poderia aumentar esse valor, sem grande custo ao governo, o que poderia ajudar mais pessoas." Janine Berg destaca que o Brasil tem uma posição vantajosa por já ter programas como o seguro-desemprego, para minimizar os efeitos da crise. Vários países da América-Latina, como o México, por exemplo, não oferecem o benefício.
De Brasília, Adriana Magalhães.