NESTA SEMANA, A RÁDIO CÂMARA APRESENTA UMA SÉRIE ESPECIAL SOBRE O AMOR. EM CINCO REPORTAGENS, VOCÊ ACOMPANHA AS VÁRIAS FACETAS DO AMOR ROMÂNTICO, ESSE SENTIMENTO TÃO FALADO E QUE FAZ PARTE DA BUSCA DE TODOS. COMO ESSE SENTIMENTO JÁ FOI VIVIDO E CONTADO AO LONGO DA HISTÓRIA? QUAIS OS DESAFIOS PARA OS CASAIS DE HOJE E QUAIS OS RISCOS DE SE AMAR DEMAIS? HOJE, NA PRIMEIRA REPORTAGEM, A JORNALISTA DANIELE LESSA APRESENTA A FÍSICA E A QUÍMICA DA PAIXÃO - COMO HOMENS E MULHERES ESCOLHEM SEUS PARCEIROS E O QUE ACONTECE NO CORPO QUANDO ESTAMOS APAIXONADOS. CONFIRA OS DETALHES... O amor é um mistério realmente apaixonante. Uns cedem com facilidade e outros são mais desconfiados, mas o impulso para buscar uma cara metade se mostra em todos os lugares. Que força é essa que faz as pessoas suspirarem, ora querendo a intensidade da paixão, ora buscando a tranqüilidade do amor? Pois é, em termos evolutivos, a conversa não é muito poética. Os humanos têm toda uma cultura acumulada ao longo de milênios, mas a ciência explica o sentimento amoroso de forma muito simples: trata-se de uma estratégia da natureza para que as pessoas se juntem, tenham filhos e garantam a sobrevivência da raça humana... Parece pouco poético, não? Mas o geneticista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Renato Zamora, explica que o cérebro de homens e mulheres processam informações de forma inconsciente para definir quais os melhores parceiros. E o que homens e mulheres analisam? Bom, para os homens vale a frase de Vinícius de Moraes: as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental. A beleza e a simetria são indicadores de bons genes e, por isso, os homens valorizam mais a forma física. E Renato Zamora explica porque as mulheres com curvas mais evidentes fazem sucesso entre o público masculino.
"Os machos do homo sapiens ficam identificando depósitos de gordura porque isso mostra, nas populações primitivas, quando a gente era homem primitivo, que essa pessoa tem condições de criar um filhote. Isso se traduz grosseiramente como coxa, peito e bunda." Renato aponta que o padrão de beleza de hoje são as mulheres muito magras, mas essas parceiras acabam não despertando tanto desejo sexual nos homens.
Bom, e para as mulheres? O geneticista explica que existem duas estratégias. No curto prazo, para namorar, vale só a beleza. Mas para casar e ter filhos, as moças buscam um bom provedor que tenha condições de dar assistência à prole.
"A curto prazo, tu quer um Brad Pitt: bonito, gostoso, a medida da cintura dividida pela medida do quadril dá de 0,9 para cima, ele deve ter uma mandíbula larga, músculos fortes e ser simétrico, isso para curto prazo. Para longo prazo, o que que tu quer? De preferência tudo isso, mas com cara de que tenha dinheiro. " Sim, Renato Zamora diz que podemos até ficar escandalizados, mas assim que algumas espécies de aves e mamíferos pensam na hora de escolher um parceiro. O homem faz parte dos 3% das espécies que formam família, e isso acontece porque criar e alimentar um bebê não é fácil, exigindo esforços da mãe e do pai. Renato aponta que antes de se apaixonarem, as pessoas processam as informações de forma inconsciente em busca do melhor parceiro disponível. "Esse processamento, digamos, cínico aparentemente que eu estava fazendo e que todo mundo faz não aparece na consciência. Por isso, quando você olha introspectivamente para ti, você vai dizer assim: eu não sou essa pessoa calhorda que o professor está descrevendo.... Mas todos nós somos assim, e é isso que os resultados das pesquisas mostram, que nós "mercantilisticamente" escolhemos os nossos parceiros". E depois dos parceiros escolhidos, chega a hora de se apaixonar. A comerciante Danielle Cristine lembra como foram os primeiros tempos de namoro com Rodrigo.
"Coração acelerado, dá um gelo na mão... Realmente me dava muita saudade e a gente quer encontrar toda hora, tudo que a gente quer fazer a gente quer fazer com aquela pessoa e, além de tudo, você quer contar a sua vida o tempo inteiro pra ela. Teve dias que eu ligava e ficava mais de 40 minutos no telefone e contava o meu dia inteiro pra ele como se ele fizesse parte de tudo aquilo que eu tava vivendo também" Pois é, para a ciência, se apaixonar é simplesmente criar uma nova rede neural, e para isso, começa um vendaval de neurotransmissores. A dopamina se eleva, trazendo todos os sintomas básicos da paixão: coração acelerado, tremor no corpo, energia para só ficar pensando no ser amado e disposição para ir até o fim do mundo. A dopamina está relacionada às sensações de prazer. Mas quando a pessoa vai embora... é hora de acontecer uma queda brusca da serotonina. Aí vem a ansiedade, o desejo de voltar a estar perto, o medo de perder o parceiro.... enfim, os mesmos sintomas da depressão. Em termos cerebrais, a paixão pode ser descrita como um transtorno obsessivo compulsivo. As mesmas substâncias atuam em vícios como drogas e jogo, como explica a geneticista da Universidade de Brasília, Ana Luiza Miranda.
"E aí quando a pessoa está longe, baixa a produção desses neurotransmissores, então a pessoa sente o contrário, aquela sensação de prazer vai embora, aí vem depressão, ansiedade, então ela tem a necessidade de estar perto da pessoa, do alvo da paixão pra poder se sentir bem e liberar esses neurotransmissores novamente. É o mesmo mecanismo que faz a pessoa ser jogador compulsivo". Mas paixão não dura para sempre... as pesquisas divergem, mas falam em no máximo 30 meses, período mais do que suficiente para atender aos objetivos da natureza de fazer um casal se aproximar, se gostar e querer ter um filho. Depois desse período inicial, mudam as relações amorosas, mudam os neurotransmissores. Quem se eleva agora é a ocitocina, que é associada ao sentimento de segurança e de tranqüilidade de uma relação estável. É a mesma substância liberada no momento do parto, estruturando a relação de amor entre a mãe e a criança.
E voltamos à história de amor de Danielle Cristine. Depois de oito anos de relacionamento, ela conta que sente falta da paixão, mas destaca que o amor também é bom, pois se sente segura ao lado de Rodrigo. Os dois ainda não têm filhos e Danielle afirma que não considera que uma criança seja imprescindível para a felicidade de um casal. São os tempos modernos driblando a natureza. De Brasília, Daniele Lessa