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Reportagem Especial - o Amor, O que as pessoas esperam de um relacionamento

A modernidade vem gerando um caldeirão de questionamentos sobre o que é se relacionar. As perguntas parecem infindáveis. O casamento já está ultrapassado? Qual o modelo ideal de relação? O amor romântico está com os dias contados ou é possível manter uma individualidade dentro do casamento? Nunca antes houve tanta liberdade de escolha, e nunca se falou tanto em como administrar melhor os problemas afetivos. A antropóloga Mirian Goldenberg aponta que grande parte dos divórcios acaba acontecendo pela grande dificuldade dos casais modernos de conciliar o desejo de ter uma relação com o anseio por liberdade.

"É algo que todo mundo quer. Eu não vejo aqui no Brasil as pessoas com projetos de viverem sozinhas, de não terem um parceiro ou de terem apenas o parceiro esporadicamente. O que eu encontro é o contrário: as pessoas querendo ter um parceiro, e o desejo cada vez maior de liberdade. A questão vai ser como os novos casais vão conseguir administrar esses dois desejos tão conflitivos". Em suas pesquisas sobre relacionamentos nos dias de hoje, Mirian não percebe o fim do amor romântico. A fidelidade, por exemplo, ainda é algo muito valorizado no Brasil, apesar da busca de pessoas por mais liberdade. A antropóloga destaca que novos modelos de casamento têm sido experimentados para que as pessoas cheguem a um equilíbrio entre o desejo de uma parceria amorosa e sexual e a busca pelo próprio espaço.

"Eu acho que essa é uma tendência, por exemplo, das pessoas quererem ter um parceiro, que seja um parceiro fiel, que você possa contar, e cada um more em uma casa. Quando as pessoas recasam e têm filhos, às vezes é difícil morar, então os arranjos conjugais estão se tornando cada vez mais diversos". Bom, as relações amorosas são mesmo contraditórias. Números do IBGE apontam que nos últimos anos tem aumentado o número de casamentos, mas o crescimento dos divórcios tem sido maior. O psicólogo Carlos Molina analisa que a pressão pela separação é grande nos dias de hoje. É como se houvesse uma mudança radical nas últimas décadas: se antes o padrão era manter o casamento a qualquer custo, hoje as pessoas se separam na primeira dificuldade.

"Uma avó, das nossas avós, há uns 70, 80 anos atrás, se descobrisse uma coisa do seu marido que ela não gostasse, ela iria para a casa da sua mãe, a mãe acolheria, mas no dia seguinte, imediatamente mandaria de volta para a sua casa. Ah, você acha que com seu pai foi diferente, você tem que agüentar, é assim mesmo, uma pressão para manter. Hoje, uma mulher que descobre uma coisa suspeita com o marido, vai e comenta com uma colega, vai ouvir: todos são iguais, só muda de endereço, faça a mesma coisa ou chute-o". E a infidelidade não é a única questão complicada nos relacionamentos de hoje. Apesar de toda a modernidade, muitas pessoas ainda sonham com uma relação idealizada em que os parceiros atendam às suas expectativas. A psicóloga Carmelita Rodrigues explica que o resultado natural desse amor idealizado é a frustração.

"As pessoas entram com expectativas erradas, esperando do outro coisas que o outro não vai dar. É como se houvesse um contrato unilateral, você assina um contrato do seu lado, imagina que o outro também assina, mas o outro nem viu as cláusulas. Então você está cobrando do parceiro ou da parceira coisas que ele não está disposto a dar, ou não consegue dar, não é o momento dele". Carmelita explica que, ao constatar esse desencontro, a tendência das pessoas é mergulhar em uma certa desilusão. Aparecem as frases de que o amor não existe ou que o casamento não funciona. Mas ela enfatiza que dentro de um relacionamento tudo é possível, inclusive a felicidade. Porém, é preciso perceber que uma relação demanda esforço dos dois lados, e não se constrói de bons momentos todo o tempo. Além disso, a psicóloga destaca que uma relação bem sucedida passa por cada um encarar suas próprias sombras, defeitos e qualidades, em vez de esperar tudo do outro.

E como manter uma relação duradoura e prazerosa? Ah, se houvesse receita para isso, o inventor certamente já estaria rico. Mas podemos buscar referências na vida real. O ator Paulo Goulart está casado com a atriz Nicette Bruno há 55 anos. Para ele, o romantismo é um traço que a alma feminina segue desejando. Ser cavalheiro ou fazer pequenas surpresas dão um colorido especial à relação. Mas Paulo destaca que o romance precisa se renovar e sair da rotina. Já que o mundo de hoje é muito dinâmico, se as pessoas acompanham esse movimento é possível ir construindo um romantismo para os dias de hoje. Além de destacar que não existe fórmula, o ator aponta que ser companheiro e estar bem com sua própria individualidade é o que fortalece uma relação.

"Não tem fórmula, mas tem em realidade essa essência do amor, o bom humor é fantástico, a generosidade é fantástica. O teu processo de viver coletivamente, você só pode praticá-lo de uma maneira equilibrada e coerente se a tua individualidade estiver equilibrada. É um pouco um processo de auto-estima. É você se olhar no espelho todo dia de manhã e dizer, bom, estou ótimo, vamos lá, vamos trabalhar, vamos enfrentar a vida. E dentro disso, minha querida, você toca o barco e cada um toca o barco a sua maneira". Parece que o grande salto de qualidade nas relações modernas passa pela iniciativa das pessoas em se conhecerem e se aproximarem de seus anseios individuais sem esperar que o parceiro resolva todas as suas carências. Dessa forma, as pessoas podem construir suas vidas, não com um príncipe ou uma princesa imaginários, mas com um companheiro de caminho, humano e que também está construindo sua própria estrada.

De Brasília, Daniele Lessa

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A modernidade vem gerando um caldeirão de questionamentos sobre o que é se relacionar. As perguntas parecem infindáveis. O casamento já está ultrapassado? Qual o modelo ideal de relação? O amor romântico está com os dias contados ou é possível manter uma individualidade dentro do casamento? Nunca antes houve tanta liberdade de escolha, e nunca se falou tanto em como administrar melhor os problemas afetivos. A antropóloga Mirian Goldenberg aponta que grande parte dos divórcios acaba acontecendo pela grande dificuldade dos casais modernos de conciliar o desejo de ter uma relação com o anseio por liberdade.

"É algo que todo mundo quer. Eu não vejo aqui no Brasil as pessoas com projetos de viverem sozinhas, de não terem um parceiro ou de terem apenas o parceiro esporadicamente. O que eu encontro é o contrário: as pessoas querendo ter um parceiro, e o desejo cada vez maior de liberdade. A questão vai ser como os novos casais vão conseguir administrar esses dois desejos tão conflitivos".

Em suas pesquisas sobre relacionamentos nos dias de hoje, Mirian não percebe o fim do amor romântico. A fidelidade, por exemplo, ainda é algo muito valorizado no Brasil, apesar da busca de pessoas por mais liberdade. A antropóloga destaca que novos modelos de casamento têm sido experimentados para que as pessoas cheguem a um equilíbrio entre o desejo de uma parceria amorosa e sexual e a busca pelo próprio espaço.

"Eu acho que essa é uma tendência, por exemplo, das pessoas quererem ter um parceiro, que seja um parceiro fiel, que você possa contar, e cada um more em uma casa. Quando as pessoas recasam e têm filhos, às vezes é difícil morar, então os arranjos conjugais estão se tornando cada vez mais diversos".

Bom, as relações amorosas são mesmo contraditórias. Números do IBGE apontam que nos últimos anos tem aumentado o número de casamentos, mas o crescimento dos divórcios tem sido maior. O psicólogo Carlos Molina analisa que a pressão pela separação é grande nos dias de hoje. É como se houvesse uma mudança radical nas últimas décadas: se antes o padrão era manter o casamento a qualquer custo, hoje as pessoas se separam na primeira dificuldade.

"Uma avó, das nossas avós, há uns 70, 80 anos atrás, se descobrisse uma coisa do seu marido que ela não gostasse, ela iria para a casa da sua mãe, a mãe acolheria, mas no dia seguinte, imediatamente mandaria de volta para a sua casa. Ah, você acha que com seu pai foi diferente, você tem que agüentar, é assim mesmo, uma pressão para manter. Hoje, uma mulher que descobre uma coisa suspeita com o marido, vai e comenta com uma colega, vai ouvir: todos são iguais, só muda de endereço, faça a mesma coisa ou chute-o".

E a infidelidade não é a única questão complicada nos relacionamentos de hoje. Apesar de toda a modernidade, muitas pessoas ainda sonham com uma relação idealizada em que os parceiros atendam às suas expectativas. A psicóloga Carmelita Rodrigues explica que o resultado natural desse amor idealizado é a frustração.

"As pessoas entram com expectativas erradas, esperando do outro coisas que o outro não vai dar. É como se houvesse um contrato unilateral, você assina um contrato do seu lado, imagina que o outro também assina, mas o outro nem viu as cláusulas. Então você está cobrando do parceiro ou da parceira coisas que ele não está disposto a dar, ou não consegue dar, não é o momento dele".

Carmelita explica que, ao constatar esse desencontro, a tendência das pessoas é mergulhar em uma certa desilusão. Aparecem as frases de que o amor não existe ou que o casamento não funciona. Mas ela enfatiza que dentro de um relacionamento tudo é possível, inclusive a felicidade. Porém, é preciso perceber que uma relação demanda esforço dos dois lados, e não se constrói de bons momentos todo o tempo. Além disso, a psicóloga destaca que uma relação bem sucedida passa por cada um encarar suas próprias sombras, defeitos e qualidades, em vez de esperar tudo do outro.

E como manter uma relação duradoura e prazerosa? Ah, se houvesse receita para isso, o inventor certamente já estaria rico. Mas podemos buscar referências na vida real. O ator Paulo Goulart está casado com a atriz Nicette Bruno há 55 anos. Para ele, o romantismo é um traço que a alma feminina segue desejando. Ser cavalheiro ou fazer pequenas surpresas dão um colorido especial à relação. Mas Paulo destaca que o romance precisa se renovar e sair da rotina. Já que o mundo de hoje é muito dinâmico, se as pessoas acompanham esse movimento é possível ir construindo um romantismo para os dias de hoje. Além de destacar que não existe fórmula, o ator aponta que ser companheiro e estar bem com sua própria individualidade é o que fortalece uma relação.

"Não tem fórmula, mas tem em realidade essa essência do amor, o bom humor é fantástico, a generosidade é fantástica. O teu processo de viver coletivamente, você só pode praticá-lo de uma maneira equilibrada e coerente se a tua individualidade estiver equilibrada. É um pouco um processo de auto-estima. É você se olhar no espelho todo dia de manhã e dizer, bom, estou ótimo, vamos lá, vamos trabalhar, vamos enfrentar a vida. E dentro disso, minha querida, você toca o barco e cada um toca o barco a sua maneira".

Parece que o grande salto de qualidade nas relações modernas passa pela iniciativa das pessoas em se conhecerem e se aproximarem de seus anseios individuais sem esperar que o parceiro resolva todas as suas carências. Dessa forma, as pessoas podem construir suas vidas, não com um príncipe ou uma princesa imaginários, mas com um companheiro de caminho, humano e que também está construindo sua própria estrada.

De Brasília, Daniele Lessa