Em 2006, 17,8% de jovens de 15 a 17 anos estavam fora da escola. Isso representa quase 5 milhões de adolescentes. Esses dados são de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas e do movimento Todos pela Educação. O que mais surpreendeu os pesquisadores, entretanto, é que não são os motivos econômicos os responsáveis pela evasão escolar. O motivo pelo qual os jovens de 15 a 17 deixam a escola é puro desinteresse. De acordo com a pesquisa, 40% deles, ou cerca de dois milhões, deixaram a escola por este motivo. Outros 27% deixaram os bancos escolares porque precisam trabalhar e só 11% deixaram as salas de aula por falta de oferta. Marcelo Neri, chefe do centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, foi coordenador da pesquisa sobre evasão escolar. Ele defende uma escola atrativa para os olhos dos alunos, diferente da maioria dos exemplos que vemos hoje em dia. E além de tudo, é preciso mostrar para o jovem o efeito benéfico que a educação pode ter sobre a vida dele.
"Por exemplo, uma pessoa que está no ensino médio, ao cursar o ensino médio, os 3 anos, o salário médio sai de R$ 700 para R$ 1.700, só com ensino médio. Você pode falar: R$ 1.700 não é tanto, mas é bem mais do que R$ 700. A taxa de ocupação sobe 10%. Tem ganhos importantes, só que eu acho que o jovem não sabe disso. Ele acha que a educação é mais uma formalidade, quando na verdade poderia ser uma educação menos formal, que satisfizesse mais ao interesse do jovem, mas de qualquer forma ela tem um impacto. Então, além de mudar o conteúdo da educação, é transmitir para o jovem o poder da educação de melhorar a vida dele em coisas importantes." Jorge Werthein é Diretor-Executivo da Ritla, Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana. Ele foi representante da Unesco no Brasil de 1996 a 2005. Jorge Werthein diz que essas pesquisas refletem necessariamente a falta de qualidade que ainda observamos na educação brasileira. Para Werthein, as políticas públicas que vêm sendo implementadas nas duas últimas décadas não estão dando o resultado esperando. Para ele, a escola não consegue acompanhar as mudanças do mundo.
"OS JOVENS DE HOJE NÃO SÃO OS JOVENS DE DEZ ANOS ATRÁS OU DE VINTE ANOS ATRÁS. ELES MUDARAM, O MUNDO MUDOU, O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS, O APARECIMENTO DAS TECNOLOGIAS É DIFERENTE. VALORES, CÓDIGOS, ASPECTOS CULTURAIS MUDARAM. TUDO ISSO A GENTE SABE, A PERGUNTA É; A ESCOLA MUDOU? PARA PODER ATENDER A ESSA POPULAÇÃO QUE MUDOU? A RESPOSTA É NÃO." Jorge Werthein diz que as escolas são muito pouco atrativas hoje em dia. Principalmente para a população mais vulnerável, que são os jovens de 15 a 17 anos.
O educador Vítor Paro é autor de dezenas de livro sobre educação e professor aposentado da USP. Para Vítor Paro, não existe evasão escolar, mas uma verdadeira expulsão dos alunos das escolas.
"Os alunos são expulsos da escola. Os alunos, os pais, querem estudar. Acontece que a escola é muito ruim, a escola, salvo raras exceções, não atende às necessidades e aos anseios nem da população e muitíssimo menos dos alunos. Então se um lugar que é a escola, que seria um centro de cultura, das coisas mais necessárias e que o homem mais tem interesse, que é apropriar-se de conhecimentos, valores, ciência, filosofia, artes, compor a sua personalidade, transformar-se. Se esse lugar é recusado pelo aluno, é porque esse lugar não está atendendo a esses objetivos." Vítor Paro destaca que a escola usa métodos ultrapassados de ensino, sem conseguir construir no aluno o desejo de aprender. Jorge Werthein destaca que o processo de reconstruir a educação é longo, mas tem que começar a ser feito.
"FALTA UMA DECISÃO DE CARÁTER POLÍTICO ONDE COLOCAMOS A EDUCAÇÃO PRIMEIRO COMO PRIORITÁRIA, SEGUNDO COMO APARTIDÁRIA E TERCEIRO DEFININDO PARA O PAÍS, PARA O ESTADO POLÍTICAS A LONGO PRAZO. OU SEJA, EDUCAÇÃO NÃO SÃO POLÍTICAS DE UM MANDATO OU DE UMA REELEIÇÃO DE UM MANDATO. A EDUCAÇÃO É UMA POLÍTICA QUE TEM QUE SER PELOS PRÓXIMOS VINTE, TRINTA, QUARENTA ANOS DO PAÍS." A secretaria de Educação Básica do Mec, Maria do Pilar Lacerda, diz que existem dois projetos do governo em curso para inovar o ensino médio.
"Nós já estamos em processo de discussão no Conselho Nacional de Educação, para apresentar para as redes estaduais um desenho de um ensino médio mais atraente para estes jovens. E estamos também fazendo uma proposta de mexer no vestibular, tornando o ENEM a nova forma de seleção modificada, o que vai também provocar uma mudança no ensino médio e dialogar mais também com esses jovens." A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação vai realizar uma audiência pública no dia 1º de junho sobre esta proposta, afirma Maria do Pilar Lacerda.
"Por outro lado, a gente tem que tomar cuidado, para não ficar ligando a escola a apenas o espaço do prazer, da alegria. A escola é o espaço da aprendizagem. Ela é o espaço da socialização, que se baseia na ética, no respeito ao diferente. é muito importante que a escola seja entendida nestas funções tão importantes para a sociedade. E a ampliação do tempo na escola é uma forma de garantir a esses jovens mais tempo nessa convivência, para estes novos conhecimentos, e aí, a escola que garante mais tempo para os alunos, é importante que seja diferente dessa escola muito fragmentada, estanque, trancada nas salas de aula, que é a escola que muitas vezes nós oferecemos para estes jovens." Maria do Pilar destaca que, além disso, há um investimento muito grande do Ministério da Educação no ensino técnico profissionalizante e uma ampliação de vagas na universidades. A secretária de Educação Básica do MEC diz que a escola precisa trazer novos conhecimentos aos jovens e dar mais sentido ao que o jovem já conhece. Ele precisa ser provocado a querer estudar mais. De Brasília, ADriana Magalhães.