O meu hemisfério esquerdo - o nosso hemisfério esquerdo - é um lugar muito diferente. O nosso hemisfério esquerdo pensa linearmente e metodicamente. O nosso hemisfério esquerdo dedica-se ao passado e dedica-se ao futuro. O nosso hemisfério esquerdo está desenhado para pegar nessa enorme colagem que é o momento presente e começar a procurar detalhes, detalhes e mais detalhes acerca desses detalhes. Depois categoriza e organiza toda a informação, associa-a com tudo o que aprendemos no passado e projecta no futuro todas as nossas possibilidades. E o nosso hemisfério esquerdo pensa através de linguagem. É aquela voz permanente dentro do cérebro que me liga a mim e ao meu mundo interno, ao meu mundo externo. É aquela pequena voz que me diz, "tens de te lembrar de comprar bananas no teu caminho para casa. Preciso delas de manhã." É essa inteligência calculista que me relembra que tenho de lavar a roupa. Mas talvez mais importante, é aquela pequena voz que me diz, "Eu sou. Eu sou." E assim que o meu hemisfério esquerdo me diz "Eu sou," eu separo-me. Torno-me num indivíduo sólido e singular, separado do fluxo de energia à minha volta, e separada de vocês. E foi esta a parte do meu cérebro que perdi na manhã do meu AVC. Na manhã do AVC, acordei para uma dor latente por detrás do meu olho esquerdo. Era daquele tipo de dor -- dor cáustica - que se sente quando se dá uma dentada num gelado. A dor apertou-me -- e depois libertou-me. E depois apertou-me -- e depois libertou-me. E era muito invulgar para mim, sentir qualquer tipo de dor, por isso pensei, OK, vou começar a minha rotina normal.
Levantei-me e saltei para a minha máquina de exercícios, que exercita todo o corpo. E estava eu a trabalhar naquela coisa e a aperceber-me que as minhas mãos pareciam garras primitivas a agarrar a barra. E pensei, "Isto é muito peculiar." E olhei para o meu corpo e pensei, "Wow, sou uma coisa com um aspecto esquisito." Era como se a minha consciência se tivesse deslocado da minha percepção normal da realidade, na qual eu sou a pessoa na máquina, a viver a experiência, para uma espécie de espaço esotérico em que eu testemunho a minha própria experiência.
E foi tudo muito peculiar, e a minha dor de cabeça tornava-se cada vez pior. Daí que saí da máquina, e estou a andar pelo chão da minha sala, e apercebo-me de que tudo dentro do meu corpo ficou mais lento. E cada passo é muito rígido e muito deliberado. Não existe fluidez no meu andar, e há uma constrição na minha área de percepção, que me faz focar apenas nos sistemas internos. E eu estava na minha casa-de-banho a preparar-me para entrar no chuveiro, e conseguia ouvir de facto o diálogo dentro do meu corpo. Ouvia uma pequena voz a dizer, "Ok. Vocês músculos, vocês têm de se contrair. Vocês músculos, relaxem." E depois perdi o equilíbrio, fui contra a parede. Olhei para o meu braço e apercebi-me que não conseguia definir os limites do meu corpo. Não conseguia definir onde EU começava e acabava, porque os átomos e moléculas do meu braço se misturaram com os átomos e moléculas da parede. E tudo o que eu conseguia detectar era esta energia -- energia. E perguntei a mim própria, "O que é que se passa comigo? O que é que está a acontecer?" E nesse momento, a voz dentro do meu cérebro -- a voz do meu hemisfério esquerdo -- silenciou completamente. Tal como alguém que pega num comando e carrega no botão 'mute'. Silêncio total. No princípio fiquei chocada por me encontrar dentro duma mente silenciosa. Mas depois senti-me imediatamente cativada pela magnificiência da energia à minha volta. E porque já não conseguia identificar os limites do meu corpo, senti-me enorme e expansiva. Senti-me em harmonia com aquela energia toda, e lá tudo era lindo. Depois, de repente, o meu hemisfério esquerdo voltou a estar online, e disse-me, "Hey! Temos um problema! Temos um problema! Temos que procurar ajuda." E eu fiquei, "Ahh! Eu tenho um problema. Eu tenho um problema." Por isso foi tipo, "Ok. Ok. Eu tenho um problema."